segunda-feira, 9 de abril de 2018

A história feliz da minha gravidez de risco

Depois de descobrir que estava grávida a felicidade era tanta que parecia não caber dentro de mim... era um desejo sonhado, que se tornava realidade... andava nas nuvens! Depois de nascer o tempo levantou voo e hoje faz exactamente 6 meses que conheci pela primeira vez a minha pipoca! Como é possível já ter passado meio ano? 


Várias vezes escrevi sobre a minha gravidez, com vontade de partilhar as experiências que ia vivendo, nesta que considero a maior e melhor aventura da minha vida. O tempo foi passando e nem tudo estava perfeito... apesar do meu bom comportamento enquanto grávida, existem certas situações que fogem do nosso controlo e nem sempre os resultados das ecografias são fotografias e momentos felizes! A partir deste momento o receio começou a ser maior que a vontade de escrever. Os textos foram ficando pendentes e nunca chegaram a ser publicados. Acabei por guardar apenas para mim todas a peripécias de uma nutricionista grávida pela primeira vez. Tive medos e receios, como todas as grávidas... queria que estivesse tudo bem... acho que é normal... e não estava... mas ao fim de 6 meses, agora que tudo passou e já tenho a minha melanciazinha comigo, cheia de saúde, percebo que afinal de contas não passou tudo apenas de um grande susto...

Apeteceu-me partilhar a minha história, que nada tem a ver com nutrição, pois na altura precisei de ler para procurar conforto e não consegui encontrar experiências semelhantes, que me deixassem descansada. Hoje é incontornável... procuramos tudo na net e esperamos que o Dr. Google nos alivie a preocupação. Gostava de ter encontrado alguém que me dissesse "aconteceu comigo... e estava tudo bem"!, "Não te preocupes!" Precisava disso... mas não encontrei! Então, hoje este post serve para outra grávida do lado de lá, que esteja a passar pelo mesmo que eu vivi... para que saiba que tudo pode terminar com um final feliz... felicíssimo!

Basicamente às 23 semanas foi-me detectado excesso de líquido amniótico e fui diagnosticada com polidrâmnios. Desculpem-me a "ignorância" mas, na altura, não fazia ideia que isto acontecesse, sempre lidei mais de perto com situações exactamente opostas (líquido reduzido).

Segundo me informei o polidrâmnios (ou também chamado de hidrâmnios) consiste numa quantidade excessiva de líquido amniótico que rodeia o feto, levando ao risco elevado de rompimento das membranas, deslocamento da placenta, trabalho de parto prematuro, hemorragia pós parto, prolapso do cordão umbilical e, no meu caso, numa barriga enorme.
Esta condição pode ocorrer numa gravidez múltipla (dois ou mais gémeos), diabetes gestacional não estabilizada ou anomalias congénitas.
Gémeos tínhamos a certeza que não era... diabetes gestacional também não (tive de repetir aquele bendito teste terrivelmente mal saboroso e nada)...  Anomalias congénitas? Até à data todas as ecografias tinham sido imaculadas... mas quando há esta hipótese em cima da mesa, todos os alarmes soam dentro da mente de uma grávida.
Houve uma altura em que desejei tanto que fosse diabetes (vejam bem o meu desespero)... pelo menos teria uma resposta e a partir daí arranjaríamos solução!

O hidrâmnios ocorre numa pequena percentagem de gravidezes e tinha logo de me "calhar" a mim! Que lotaria! Apenas cerca de 2% das mulheres apresentam esta condição e, regra geral, desaparece por si só na maiora dos casos (o que não aconteceu comigo).

No inicio aguardou-se por uma nova ecografia, que seria antecipada, para confirmar que não se tratava de algo passageiro, mas a verdade é que de semana para semana eu acumulava mais líquido. O desconforto associado ao excesso de volume começava-se a sentir e os riscos de ter um parto antes do tempo também. Fiz imensas ecografias, fiquei a conhecer as melhores clinicas, repeti morfológicas, passei de especialista em especialista. Procurava-se encontrar algum sinal de que o bebé não engolisse líquido, algum tipo de problema renal, cardíaco ou alteração dos fluxos... enfim a verdade é que felizmente nunca se encontrou nada. Fiquei a conhecer todos os locais recomendados para as melhores ecografias e os melhores médicos da cidade. Nenhum me podia dar garantias que estava tudo bem, mas aparentemente o excesso de líquido era idiopático. Se por um lado sentia alguma tranquilidade quando saia das ecografias, por outro andava preocupadissima com a possibilidade de algo se passar com o meu bebé e eu não poder fazer nada para evitar.

Com um ILA (Índice de Líquido Amniótico) superior a 30 a hipótese que me colocaram foi o internamento imediato até ao nascimento. Na altura estava de 31 semanas e não queria ficar 2 meses fechada num quarto de hospital. Seria desastroso do ponto de vista emocional!
Fiquei em casa de "molho"...  tive de deixar as consultas e os meus pacientes, pois naquele momento havia alguém que precisava ainda mais de mim, a minha filha!
Não vivia longe do hospital e como tal, se acontecesse alguma coisa estaria por perto. O tempo passou... e apesar da gigantesca piscina olímpica que tinha dentro da minha barriga, a melanciazinha parecia estar confortável demais para antecipar a sua chegada... comecei desde as 32 semanas a fazer consultas semanais, avaliar dilatações, CTGs e fiz indução da maturação pulmonar, não fosse a pipoca querer saltar cá para fora antes de tempo. 

Como tínhamos despistado toda uma série de situações mais comuns, a única possibilidade que restava, apesar de pouco provável (segundo os médicos), era existir uma fístula a nível do esófago, uma malformação fetal, mas dificilmente se conseguiria detectar através da imagem em ecografia e portanto ficou sempre um ponto de interrogação no ar. Caso fosse esse o panorama teria de seguir para cirurgia neo natal mal nascesse. Nem queria sequer imaginar... Apesar de me sentir confiante e positiva de que tudo iria correr bem, após 14 horas de trabalho de parto induzido (para que todo o pormenor do nascimento fosse acompanhado de próximo por uma equipa de profissionais do Hospital da Luz) decidiu-se partir para cesariana. O meu médico achou por bem não esperar para entrarmos na madrugada caso houvesse necessidade de cirurgia. E assim foi!
Nunca me esquecerei do momento em que os olhos "daquele médico" (que nunca mais vi) de touca e máscara me disseram que ela não tinha qualquer problema. Que tinham verificado tudo e que estava tudo bem... podia finalmente ficar descansada! Foi o instante mais feliz da minha vida! Tinha uma filha com saúde, que é o que qualquer mãe deseja!


Há histórias com finais felizes... e eu sinto-me uma verdadeira privilegiada por poder dizer que esse foi o meu caso!



2 comentários:

  1. Obrigada Dra. Lillian, pelo testemunho tão sincero, mas com um final feliz :) Beijinhos

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  2. Liliana, podia ter sido eu a escrever este texto :( aconteceu exactamente a mesma coisa comigo, tal e qual. Excesso de líquido detectado as 31 semanas e nenhuma causa aparente...uma barriga gigante, uma enorme piscina olímpica :( a pipoca aqui não queria nascer, o parto foi tb induzido mas mesmo no fim do tempo (ela acabou por nascer no dia em que fez 40 semanas), mas o meu demorou 36h...cheguei mesmo a fase de fazer força pra ela sair mas acabamos por ir para uma cesariana de urgência. Foi um parto traumático mas a pior coisa foi mesmo não poder vê-lá nascer. Anyway, ela nasceu bem e tirando o refluxo não há aparentemente nenhum outro problema que possa explicar o polidramios. Mas é verdade que andei uns tempos com o coração nas mãos..a ansiedade era enorme. :( o importante é que já estamos as duas sãs e salvas em casa. Um beijinho, obrigada pela partilha

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